Ações da Petrobras disparam 12% e Ibovespa vai atrás, tendo o benefício da dúvida como aliado

 


Saldo do Dia: Após mergulho histórico de 30% em dois pregões, papéis da estatal se recuperam parcialmente. Parcela do mercado aproveitou descontos e aposta que política de preços da companhia seguirá acompanhando flutuações de câmbio e petróleo. Conselho da estatal passou o dia em reunião, debatendo se acata, ou não, a indicação de Silva e Luna para o posto de Castello Branco. Só o tempo dirá se reclamações de Bolsonaro em favor de caminhoneiros serão convertidas em retrocesso ao modelo Dilma de gestão.

benefício da dúvida parece ter sido dado por parte dos investidores à Petrobras nesta terça-feira (23).

Depois de as ações da estatal mergulharem 21%, no embalo da indicação do general Joaquim Silva e Luna para o lugar do economista Roberto Castello Branco no comendo da companhia, apagaram um pedaço da evaporação de valor recente.

Papéis preferencias (PN, que dão preferência por dividendos) da estatal subiram 12,17%. Ordinários (ON, com direito a voto em assembleias) outros 8,96%. Esse desempenho ajudou o Ibovespa a não acompanhasse a vermelhidão lá fora, trazida por temores de inflação batendo às portas dos Estados Unidos. Com esse risco no radar global, foi mais um dia em que os rendimentos dos títulos americanos roubaram atratividade de ações vendidas nos principais mercados.

Com 56 das 81 ações em alta, o Ibovespa subiu 2,27%, aos 115.227 pontos. Na semana, acumula perdas de 2,71%.

O volume financeiro das negociações de ações componentes da carteira teórica foi alto, mas não tanto quanto foi no pregão passado. Depois do recorde absoluto de mais de R$ 54,3 bilhões, ficou nos R$ 39,5 bilhões, 51% acima da média diária de R$ 26,1 bilhões de 2021. No caso das ações da Petrobras, o giro financeiro fez sombra ao da véspera. Contra os R$ R$ 13,7 bilhões anteriores, foram movimentados nesta sessão R$ 10 bilhões.

Sobram desconfianças, é verdade. O presidente adotou o velho discurso do "petróleo é nosso", gasto por outros presidentes intervencionistas - casos de Vargas, Lula e Dilma. E Silva e Luna, por sua vez, tem falado em priorizar "questões sociais". Mas, ao fim ao cabo, o que se tem de concreto são apenas... desconfianças mesmo. Oficialmente, ao menos até aqui, a política de preços da companhia não mudou. Até segunda ordem, seguirá acompanhando as flutuações do câmbio e do petróleo no mercado internacional.

"Mas gato escaldado tem medo de água fria, a gente já passou por isso entre 2011 e 2016, ficou um trauma, o mercado tem isso ainda muito fresco na cabeça, por isso caiu tanto", diz o chefe de análise da Inversa, Flavio Conde. Naqueles anos, relembra, o preço da gasolina e do diesel foram mantidos bem abaixo do mercado internacional pela empresa. A dívida passou por estouro, a lucratividade despencou e a ação, como efeito, desceu ao nível dos R$ 5.

Mas a partir de 2016, quando Pedro Parente assumiu a companhia, esse quadro começou a mudar. Até a gestão Castello Branco e antes dos tombos recentes, papéis da companhia foram içados aos R$ 30. Uma valorização de nada menos que 500%, que quantifica bem a recomposição de confiança da empresa de lá para cá entre investidores - e que foi arranhada pelo presidente Bolsonaro.

A preocupação de Conde, compartilhada com a totalidade dos participantes do mercado, é que se coloque tudo a perder na empresa outra vez.

"Castello Branco vinha não só praticando preços em linha com as regras de mercado, mas mudou também para melhor a política de investimentos da Petrobras", aponta. "Focou em exploração e produção de petróleo, que é o principal negócio estratégico, e nos melhores projetos possíveis."

  • Além da valorização das ações da estatal desde 2016, citada acima, Conde cita outra régua importante para demonstrar a reconstrução da empresa entre as gestão Parente e Castello Branco.
  • O primeiro, recebeu uma empresa com em grau de endividamento (alavancagem, no jargão dos analistas) que equivalia a 5,6 vezes os lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização (ebitda, na sigla usual, em inglês). O segundo, caso seja confirmado o passa-fora de Bolsonaro, deixará a companhia com redução dessa relação a 2,3 vezes.

    "O trabalho feito foi muito bom, o que aconteceu no meio do caminho foi um salto do câmbio de R$ 4 a R$ 5,30, e não por responsabilidade de Castello Branco, mas por causa do risco-Brasil, ligado ao endividamento e aos níveis de gastos do governo", diz Conde.

    Ao longo do dia, esteve no pano de fundo do momento de suspense envolvendo a Petrobras a reunião de seu conselho. O encontro já estava marcado e previa, até a noite de sexta-feira (19), a recondução para mais dois anos de mandato de Castello Branco. Mas, como se sabe, naquela noite o presidente sacramentou as promessas de mudanças que, após suas reclamações sobre reajustes nos preços dos combustíveis, já haviam trazido às ações da estatal perdas de 8%.

  • Como será amanhã? Responda quem puder

    O pregão aconteceu ainda sem se saber se o general seria, de fato, confirmado no posto. Ao que tudo indica, será, já que foi convocada após o fechamento assembleia para a sua eleição e de mais sete conselheiros. Em segundo lugar, havia dúvidas sobre se os conselheiros iriam ou não renunciar em massa, o que poderia trazer novos solavancos históricos aos papéis da empresa - risco que também parece estar descartado. Superadas as dúvidas sobre o conselho, será chegada a hora do vamos ver.

    "O preço do petróleo ainda está alto no mercado internacional, será que o novo presidente vai sancionar novos aumentos, em linha com o rali?", questiona Conde. "A defasagem ou não em relação à concorrência internacional vai funcionar de termômetro, fica o receio de que a Petrobras de alguma maneira resolva ajudar um pouco o governo, reduzindo, por exemplo, em R$ 0,10 os preços de gasolina e diesel."

    A Lei das Estatais, de 2016, protege a Petrobras de eventuais usos políticos. Caso por ordem do presidente descontos sejam dados em combustíveis, em tese, o Tesouro pode ser acionado para ressarcir a companhia. Um eventual rombo no caixa da empresa, portanto, poderia ser transferido para as contas públicas. O problema de se contar com isso, lembra Conde, é que a lei é historicamente nova. Não foi colocada em prática ainda. Se necessário, será que será?

    Agora, resta esperar. E, a investidores que colocaram a mão no fogo nesta terça, a torcida para não se queimarem em breve.

    • E por falar em queimadura, foi dado pelo mercado voto de confiança também ao Congresso nesta terça.

    Foi apresentado pelo senador Marcio Bittar (MDB-AC) seu parecer final sobre a proposta de emenda constitucional (PEC) emergencial. Prevista para ser votada na quinta-feira (25), pretende criar gatilhos para cortes de gastos quando o governo estiver com a corda no pescoço, como agora. Entre eles, o congelamento de salários de servidores, a criação de novos concursos ou promoções.

  • Por outro lado, chama à atenção no texto a falta de limites para novas rodadas de auxílios emergenciais. Falava-se em teto de R$ 30 bilhões, mas não foi incluído. Tampouco ficou registrado o período de vigência do socorro aos brasileiros. Mas está lá que ao serem pagos, custem quanto custar, o governo ficará livre de ser punido pela Lei de Responsabilidade Fiscal. A dívida federal, com as leis da matemática teimando em ser implacáveis, não ficaria nesse caso isenta de explodir. Votada a PEC, o governo deve enviar uma medida provisória que trata da retomada dos pagamentos.

    • A metade meio cheia do copo, a dos gatilhos para cortes de gastos, parece ter calado mais profundamente no coração dos investidores. E as taxas de contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022, que refletem expectativas mais imediatas para a Selic, foram de 3,54% para 3,47%;
    • O fim da curva está mais ligado à intensidade do cheiro de calote do governo no ar e, consequentemente, à expectativa de juros condizentes com esse risco lá na frente. E as taxas para janeiro de 2031 subiram de 8,26% para 8,22%.

    O dólar à vista fechou em queda de 0,24%, aos R$ 5,4421. O real acumula desvalorização na semana de 1,02%.

    Destaques do Ibovespa

    • As ações da Eletrobras passaram o dia em disparada e quem acertar o motivo ganha um doce. Brincadeira, porque essa é fácil de acertar. Sim, notícias vindas de Brasília pró-privatização.

    As ações da companhia se embolaram com as da Petrobras. Papéis PNB subiram 10,81%; ON, outros 13,01%. Na contramão do presidente avisando que ia "meter o dedo" nos preços da energia elétrica, o presidente da Câmara, Arthur Lira, disse que aguarda uma Medida Provisória que será enviada pelo Planalto para agilizar o processo.

    Ajudou no dia de reação das ações do setor relatório da agência de classificação de riscos S&P. O material concluiu que os bancos brasileiros estão preparados para eventuais cenários ainda mais severos de danos econômicos trazidos.

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