Saldo do Dia: Após mergulho histórico de 30% em dois pregões, papéis da estatal se recuperam parcialmente. Parcela do mercado aproveitou descontos e aposta que política de preços da companhia seguirá acompanhando flutuações de câmbio e petróleo. Conselho da estatal passou o dia em reunião, debatendo se acata, ou não, a indicação de Silva e Luna para o posto de Castello Branco. Só o tempo dirá se reclamações de Bolsonaro em favor de caminhoneiros serão convertidas em retrocesso ao modelo Dilma de gestão.
O benefício da dúvida parece ter sido dado por parte dos investidores à Petrobras nesta terça-feira (23).
Depois de as ações da estatal mergulharem 21%, no embalo da indicação do general Joaquim Silva e Luna para o lugar do economista Roberto Castello Branco no comendo da companhia, apagaram um pedaço da evaporação de valor recente.
Papéis preferencias (PN, que dão preferência por dividendos) da estatal subiram 12,17%. Ordinários (ON, com direito a voto em assembleias) outros 8,96%. Esse desempenho ajudou o Ibovespa a não acompanhasse a vermelhidão lá fora, trazida por temores de inflação batendo às portas dos Estados Unidos. Com esse risco no radar global, foi mais um dia em que os rendimentos dos títulos americanos roubaram atratividade de ações vendidas nos principais mercados.
Com 56 das 81 ações em alta, o Ibovespa subiu 2,27%, aos 115.227 pontos. Na semana, acumula perdas de 2,71%.
O volume financeiro das negociações de ações componentes da carteira teórica foi alto, mas não tanto quanto foi no pregão passado. Depois do recorde absoluto de mais de R$ 54,3 bilhões, ficou nos R$ 39,5 bilhões, 51% acima da média diária de R$ 26,1 bilhões de 2021. No caso das ações da Petrobras, o giro financeiro fez sombra ao da véspera. Contra os R$ R$ 13,7 bilhões anteriores, foram movimentados nesta sessão R$ 10 bilhões.
- O desempenho positivo dos papéis nesta terça-feira não implica que tenham ido embora os temores de interferência de Bolsonaro em favor de caminhoneiros na empresa. Mas, sim, que o mergulho de quase 30% dos dois últimos pregões tenha sido exagerado.
Sobram desconfianças, é verdade. O presidente adotou o velho discurso do "petróleo é nosso", gasto por outros presidentes intervencionistas - casos de Vargas, Lula e Dilma. E Silva e Luna, por sua vez, tem falado em priorizar "questões sociais". Mas, ao fim ao cabo, o que se tem de concreto são apenas... desconfianças mesmo. Oficialmente, ao menos até aqui, a política de preços da companhia não mudou. Até segunda ordem, seguirá acompanhando as flutuações do câmbio e do petróleo no mercado internacional.
"Mas gato escaldado tem medo de água fria, a gente já passou por isso entre 2011 e 2016, ficou um trauma, o mercado tem isso ainda muito fresco na cabeça, por isso caiu tanto", diz o chefe de análise da Inversa, Flavio Conde. Naqueles anos, relembra, o preço da gasolina e do diesel foram mantidos bem abaixo do mercado internacional pela empresa. A dívida passou por estouro, a lucratividade despencou e a ação, como efeito, desceu ao nível dos R$ 5.
Mas a partir de 2016, quando Pedro Parente assumiu a companhia, esse quadro começou a mudar. Até a gestão Castello Branco e antes dos tombos recentes, papéis da companhia foram içados aos R$ 30. Uma valorização de nada menos que 500%, que quantifica bem a recomposição de confiança da empresa de lá para cá entre investidores - e que foi arranhada pelo presidente Bolsonaro.
A preocupação de Conde, compartilhada com a totalidade dos participantes do mercado, é que se coloque tudo a perder na empresa outra vez.
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